quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Medianeras


Medianeras (2012) é um filme argentino dirigido por Gustavo Taretto que ganhou o Kikito em Gramado em 2011.  Nas palavras do próprio diretor, o filme se constrói sobre quatro pilares:
  1. Cidade (Buenos Aires), caótica, imprevisível, mas atrativa;
  2. Solidão urbana, como se convive diariamente com perfeitos desconhecidos, que são indiferentes entre si;
  3. Falta de comunicação, a tecnologia pensada para nos conectar, que paradoxalmente nos separa;
  4. Busca do amor, a dificuldade de duas pessoas que se encaixam perfeitamente de encontrar-se (que, inclusive vivem na mesma quadra).
O filme tem uma fotografia linda e é cheio de imagens e referências arquitetônicas. Começa com uma análise dos personagens e da arquitetura de Buenos Aires, fazendo uma relação entre a vida das pessoas com a cidade.

Conta a história de Mariana (uma arquiteta que nunca construiu nada) que, enquanto não consegue trabalho com arquitetura, vive de fazer vitrines; e de Martin (um webdesign), que vive com seu cachorrinho Susú, cheio de síndromes e inseguranças. Ambos recém separados: ela divorciada, ele abandonado pela namorada americana. Ambos cheios de fobias: ela, com medo de elevador, ele com medo de qualquer meio de transporte. E ambos vivendo em na mesma quadra de uma Buenos Aires caótica de uma Argentina em crise.

Segue uma descrição de Buenos Aires, narrada pelo personagem Martin e fazendo uma relação da cidade caótica com sua vida, igualmente caótica:


"Buenos Aires cresce descontrolada e imperfeita, é uma cidade superpopulada em um país deserto, uma cidade onde se erguem milhares e milhares e milhares de edifícios sem nenhum critério. Ao lado de um mais alto, há um mais baixo, ao lado de um racionalista, um irracional, ao lado de um com estilo francês, há outro sem nenhum estilo. Provavelmente estas irregularidades nos refletem perfeitamente, irregularidades estéticas e éticas. Esses edifícios que seguem sem nenhuma lógica demonstram uma falta total de planejamento. Exatamente como é a nossa vida, que vamos fazendo sem ter a mínima idéia de como queremos que seja.
Vivemos como se estivéssemos passando por Buenos Aires. Somos os inventores da cultura do inquilino. Os edifícios são cada vez menores, para dar lugar aos novos edifícios, menores ainda. Os apartamentos se medem por ambiente e vão desde os excepcionais cinco ambientes com varanda, play, dependência de empregada, depósito, até o ambiente único ou "caixa de sapatos. Os edifícios como quase todas as coisas pensadas pelo homem estão feitos para que nos diferenciemos uns dos outros. Existe uma fachada principal e uma dos fundos, os andares baixos e altos. Os privilegiados são identificados pela letra A, ou excepcionalmente com a B; quanto mais avança o abecedário, menos categoria tem o apartamento. As vistas e a luminosidade são promessas que raramente coincidem com a realidade. O que se pode esperar de uma cidade que dá as costas para seu rio? Estou convencido de que as separações e os divórcios, a violência familiar, o excesso de canais a cabo, a falta de comunicação, a falta de desejo, a bulimia, a depressão, os suicídios, as neuroses, os ataques de pânico, a obesidade, as dores musculares, a insegurança, o estress e o sedentarismo são responsabilidade dos arquitetos e empresários da construção. Desses males, exceto o suicídio, eu padeço de todos."

Mas o que significa "medianera"?

São as fachadas dos edifícios que se encontram no limite do terreno, sem afastamento e que, quando não estão coladas ao prédio do terreno ao lado, ficam livres e "cegas", sem janelas ou vãos. Geralmente se convertem em gigantes outdoors e/ou (no caso do filme), é onde invariavelmente se abrem janelas ilegais para melhorar a ventilação dos apertamentos.

Uma "medianera" com janelas irregulares. Foto do filme.

Abaixo, o trailler oficial do filme:



E, por fim: ainda esse ano, entre 17 e 20 de outubro, se realizará o Arquitetura Film Festival 2013, em Santiago do Chile. Desse festival, surgiu uma entrevista com o diretor Gustavo Taretto, realizada por Andrés Daly do interessante (e recém descoberto por mim) 35 milímetros, site chileno sobre cinema e Arquitetura.


Medianeras: vale a pena assistir!


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